tag:blogger.com,1999:blog-91225108920377827102024-03-24T23:09:22.675-07:00o grande merecedorO blog do Paulo Tigre, nada de "mais do mesmo": recicla-se um autor felino por post.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-91948006096298481572012-01-05T14:28:00.000-08:002012-01-05T14:28:09.317-08:00O primeiro. O segundo.O primeiro começa com uma cama rangendo e algum suor. O segundo passa as horas transformando-se em fóssil e desfazendo-se em pó. O primeiro sente-se satisfeito e de certo modo até confortável, embora não faça ideia de que está discutindo com um vaso de flores. O segundo ainda espera que esqueçam seu rosto numa pequena cidade da Bahia. O primeiro afasta as cadeiras pra vomitar e consegue cambalear até o sofá. O segundo sente-se forçado a abandonar a casa de três andares dos pais por achar que não saberia como lidar com eles depois que as notícias da sua viagem chegassem até os ouvidos deles. O primeiro não sabe, mas tem um tumor qualquer em alguma parte do corpo que irá parar de funcionar e matá-lo depois de um ou dois anos de internação. O segundo perderá a vida durante o sono e passará seus últimos 11 anos de existência tentando deixar algum traço da sua personalidade no seu sobrinho. O primeiro consome um fim-de-semana inteiro na cama lendo On The Road pela segunda vez. Faz 4 refeições durante esse tempo. O segundo sente-se atraído por louras de salto alto maiores do que ele mesmo. O primeiro descobriu que tem um filho de dois anos há três dias. O segundo espera calado até que seu terceiro inquilino do ano acalme a esposa para lembrá-los de que o aluguel está atrasado. O primeiro perde bêbado o último ônibus de um domingo de céu sem estrelas. O segundo esquiva-se de entregadores de folheto como se tivessem facas nas mãos.<br />
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O primeiro vê seu futuro nas lápides do Père-Lachaise. O segundo sequer lembra de que está vivo.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-28581462792889921992011-10-16T08:00:00.000-07:002011-10-16T08:00:06.142-07:00"narração sobre a figura mais melancólica que eu já vi"E quando eu sentei na frente da loja -te contei essa, einhô... Hein, cara, te falei da vez que eu vi o velho na frente da loja? Tá... Então eu tava acompanhando a minha namorada e a sogra, foram comprar roupas. Coisa de mulher, obviamente eu tirei os fones do bolso e sentei do lado de fora. Aí eu levantei os olhos devagar e de repente vi a figura mais melancólica que eu já vi. Foi um susto mesmo, sabe? Tu olha pruma pessoa e sente tanta pena que dá vergonha. Depois de uns 30 segundos, percebi que eu tava encarando ele com uma cara tão séria que se ele me visse, era capaz de achar que eu era um psicopata, ou coisa assim. Pra ajudar, o Mick Jagger tava dançando na minha orelha me dizendo coisas como "<i>You can't always get what you want</i>" e quando eu troquei de música pra não acabar com o meu dia que já tinha começado mal numa vitrine de <i>boutique</i> feminina, surge um Nick Cave sussurrando pra mim "<i>hold on to yourself</i>". Porra, eu tava sem saída e achei que aquilo era um sinal. Não acredito em nenhuma superstição, mas quando alguma coisa convenientemente se encaixa, é como se Deus tivesse dado um toquinho no meu ombro e quando eu virasse de volta depois de ver que não foi ninguém, eu percebesse alguma coisa incrivelmente óbvia na minha frente. Então eu fiquei ali pensando no velho. <br />
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Era um senhor numa cadeira de rodas com uma esparadrapo na veia do braço e fumando um cigarro no canto da vitrine, uma vitrine enorme com um letreiro enorme e um velho fodido largado no canto, que provavelmente já serviu de mictório público em algumas noites. Não tô querendo te deixar pra baixo, mas é que essas coisas ficam na minha cabeça, eu vejo que sem exagero tenho uma tendência a ficar que nem ele. Pra começar, ele tava fazendo a mesma coisa que eu, esperando as filhas, sobrinhas, netas... E de lado, ainda, porque a calçada era inclinada... Imagina, nem pra esperar a morte tu pode escolher uma posição!<br />
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Ultimamente tenho percebido bastante essa minha obsessão com perdedores. Não que eu realmente ache que vá ser um, mas porra, a vida é uma coisa tão incrivelmente grande, qual é a desse pessoal? Por que vocês me fazem escrever sobre gente que morre sem ter sido especial pra ninguém, ou já foi, mas essa outra pessoa morreu antes e ele termina tipo uma sombra no entardecer, esperando pra se ajuntar com o resto da mediocridade humana e fazerem juntos uma grande sombra que cobre o mundo todo e se juntam, na verdade, pra ficarem mais invisíveis ainda?<br />
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É essa porcaria de Nick Cave, preciso parar de escutar esse cara.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-25962744698862501272011-09-18T08:00:00.000-07:002011-09-18T08:00:08.239-07:00Gratidão AlheiaVi que as coisas estavam perdendo o controle quando ele começou a mijar no meu pé.<br />
Senti na lona do All-Star um quentinho me umedecendo e subindo à cabeça um pouquinho de raiva. Quem era mesmo aquele filho da puta?<br />
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Quando entrei no bar, ele me cumprimentando tão energicamente, apertando minha mão como um garotinho testando o limite dos encaixes do seu brinquedo novo. Simulando a embriaguez mais óbvia que eu jamais tinha visto, e assim mesmo, acolhi os abraços demasiadamente afetuosos com uma receptividade tão natural quanto um quanto um tapinha no pênis como prova de gratidão por sexo: seria um tanto constrangedora, mas doce. Eu já não estava no meu maior pico de sobriedade... Mas ser recebido tão calorosamente no seu bar preferido, onde todo mundo já se falou ou pelo menos se viu algum dia, me fez sentir tão acolhido que eu fui obrigado a retribuir tamanha gentileza. Paguei uma para cada mesa, e todos levantaram os copos e interromperam suas conversas para reconhecer a minha magnanimidade num sorriso mais do que satisfeito, e uns ainda me cumprimentaram, de longe. Comecei a entender esses velhos que vivem nos bares.<br />
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Assim que eu consegui me sentar de frente pro balcão (sou daqueles que espera a companhia chegar, não que a oferece.) o querido anônimo atrasa o percurso de balcão-boca do uísque com uma chacoalhada no meu ombro; Olhei pro barman com os olhos entreabertos, mandando um sinal de fumaça, poderia haver fogo. Um aviso cortês, dizendo que não ia me responsabilizar. O barman respondeu com os olhos amistosos: "ali fora."<br />
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À princípio, me pareceu só mais um daqueles bêbados socialistas que viramos depois de virar uns copos. A embriaguez é um estado sublime. Ele veio me falando da mulher, dos filhos. Imagine! Já passou pela cabeça dele que eu posso ter pego meu casaco, meu chapéu e calçado as botas pra escapar de um lar assim? Não era o caso. Naquela noite.<br />
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E continuou descrevendo sua vida de trinta anos empregados em um emprego que não exige mas não afrouxa, uma esposa muito amável e satisfeita, dois bons filhos que se dão bem na escola e tementes à Deus. Me mostrou fotos no celular e as 3x4 deles na carteira. Mas só passei os olhos, alguém já tinha me contado sobre o homem. Foi uma tragédia, dizem.<br />
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Engoli uma quantidade de álcool que me fez contrair o rosto. Mas não engoli aquela baboseira. Ele então se levantou em silêncio e deixou um suspiro ao voltar pro mundo real. Com os olhos, tentou achar uma desculpa e partiu depressa. Não fez por mal, de certo. Seu olhar estava tão perdido quanto sua sorte. E quando se vive uma mentira, é preciso ter sorte.<br />
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Todo mundo simpatiza com o Paulo Tigre. Na verdade, esses aí tem é medo de acabar como ele. Há destinos piores, claro, mas fadar-se a uma ilusão é um fundo de poço mental. Quando levantei, ele já tinha saído do bar e com ele, o conteúdo das 7 doses de cachaça com butiá que ele pediu. O barman não deixou eu me afastar do balcão. Tudo bem, o desgraçado me ganhou. Paguei todas complacente. Não se pode fazer nada, ele vai acabar duro, gelado e sozinho. Eu só tratei de mantê-lo aquecido por aquela noite. Quando abri a porta, pisei na poça de mijo que se alargava com o ruidoso fluxo do meu dinheiro sendo expulso da sua bexiga. Ele se virou e o arco dourado pousou sobre os meus pés. Enquanto tentava manter-se fixo no meu campo de visão, tocou meu ombro com a mão desocupada e agradeceu por eu ter pago as bebidas. De repente, quis saber quem era aquele filho da puta. Tão desesperado por um pouco de atenção e cortesia, Deus, quando é que ele vai acordar? A esposa tão jovem e os filhos tão bonitos. Uma pena, de verdade. Mas não vou ser eu quem vai acabar mandando ele prum hospício. Pra que se incomodar?... Ele é completamente inofensivo, só um cara que não consegue viver a própria vida, quantos mais você acha que vai encontrar pelo resto da sua?Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-15161364410202621272011-08-21T11:35:00.000-07:002011-08-21T11:35:00.567-07:00Sobre nossas cabeças-Conheci um urubu ontem à noite. Três deles. São pouco espertos, mas circulam em bando por isso.-<br />
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Sabe o que pareceu? Que eram abutres, urubus... É que tava na cara que eles só queriam uma desculpa, eles tavam desafiando elas, e, claro, elas compraram. Mas tá certo, tem que comprar, mesmo, ainda mais que a gente tava em terreno inimigo, sabe? Sentados num café 24h na Padre Chagas... Te explico como chegamos lá noutro dia, enfim;<br />
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Sabe o que eu detesto naquele lugar? É que tu sabe que vai encontrar esses tipos lá. Ele é o cara que tem sempre novos amigos, os que tem cérebro e conheceram bem ele, ficaram pra trás. Mas o que importa é o prestígio, o cara é um merda, mas ele tem prestígio. Tá, tô ficando meio teórico, vou deixar este copinho de suco de cevada mais de lado; suco de cevada, conhece essa? É do Mussum, aquele cara era um gênio.<br />
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MAS... Voltando pro assunto, os três, esse bem coroa, um demagogo no sentido mais completo da palavra, tá ligada? Um cara que acha que conquista as pessoas só porque fala mais alto e diz que não tem medo de dizer o que pensa. Ele acha que é um diplomata, de certo, só porque consegue dizer "com todo o respeito" antes de te insultar, o cara que ri alto pra que todo mundo veja que é hora de rir também... Não, eu sei, parece triste, mas até que não é... Ele tava junto uma típica profissional em arranjar relacionamentos passageiros com homens mais velhos e ricos, então o velhote ia poder dar umas com uma mulher mais nova. Sabe o que me irrita? É que ele é um merda, mas sempre vai ter alguém pra dar uma masturbada no ego dele... E tinha um outro cara, que faz a linha "moderado em tudo", quem puxou o papo com a gente: "Qual é a treta?". Pobre coitado, aos 30 anos, e já usando Grecin 2000, quer ser incluído em todos os círculos.<br />
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Eu poderia falar tanto deles. Mas vou ser breve, entendo que a essa hora, é difícil de acompanhar e eu mesmo não tô conseguindo organizar os pensamentos na minha cabeça. Estávamos nós 4, e fora eu, os três eram gays. Não, minha cara, pode confiar no pai Tigre, aqui. Ah, mas eu sei, me garanto. Podia até te mostrar, mas aqui no meio da rua às 2 da tarde, iriam querem nos prender e eu te digo uma coisa, só paro depois da terceira...Haha! Então, eu era o único hétero, e, tá, deu! Deixa eu contar, poxa. Dúvidas sobre a minha masculinidade eu só respondo na prática. Ok, então. Aí, as duas garotas se beijaram, um beijo mesmo. Ser hétero nessas horas é cruel. Como diria o Raul, onde é que eu me encaixo? E a gente tava meio perto da mesa deles. Eventualmente, como eu disse, o cara puxou assunto com a gente e o assunto acabou entrando nisso e, pra resumir, o careca acabou tentando fazer elas explicarem como é ser lésbica. Algumas suposições a mais e logo esta perfeita descrição da demagogia ambulante comparou homossexualismo com pedofilia. E pronto, agora tínhamos seis pessoas falando alto e dando sua letrinha. Mas aí que vem o troço do urubu, eles ficaram rondando, só ouvindo a conversa, observando a maneira de como uma tratava a outra e dando aqueles risinhos um pro outro de "essa juventude tá se perdendo" e negando a cena com a cabeça. Estavam à espera de que elas definhassem pra mergulhar até o chão e se alimentar da carniça. Não! não tô xingando ninguém! Mas tipo, que falassem alguma coisa errada, meio confusa e então iam rebater e sei lá, entrar numa discussão em que o cara dissesse "vocês são muito novinhas" ou que insinuasse que isso era um "ímpeto de transgressão" que elas tinham que exteriorizar. E, de fato, foi isso que aconteceu, o cara conseguiu. Não tô dizendo que elas foram ingênuas de comprar a discussão, mas é essa coisa de ficar à espreita, circulando sobre as nossas cabeças, pra espalhar suas certezas sobre a vida e suas conclusões sobre a natureza humana. <br />
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Deus do céu, certas pessoas amaldiçoam essa terra só por existir.<br />
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Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-87340747308336650712011-06-27T22:14:00.000-07:002011-08-04T12:08:45.058-07:00Blues do SobrenaturalMas e se acontecesse de novo?<br />
(e se eu te visse) desviando do povo<br />
(e se eu sentisse) sua mão gelada<br />
(e se você sorrisse) na beira da calçada<br />
<br />
Meu passo é tão seguro e meu caminho é escuro<br />
Não pedi nenhuma escada pra descer do muro<br />
Nessa noite gelada, eu quieto e ela calada<br />
Dentro daquele vestido, uma ruivinha tão s...<br />
<br />
Então eu vejo uma lanterna de fogo e um clarão<br />
Paro pra encarar, ela quer me jogar no chão<br />
Ela pega um cigarro e ergue até o rosto<br />
Olho praquele vestido e meto a mão no bolso<br />
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Arranco do fundo o papo leve e um isqueiro<br />
E alcanço uma faísca pra menina ligeiro<br />
Uma chama e um sorriso e o cabelo vermelho<br />
Eu peço seu nome como um cavalheiro<br />
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Ela me encara e arranca o fogo da minha mão<br />
e bafora na minha cara, diz que "não"<br />
"Menina, relaxa, só tentei ser gentil<br />
vou voltar pro meu sossego, já queimei teu pavio"<br />
<br />
Ri e diz que tá tudo bem,<br />
que só queria um assunto pra puxar também<br />
A essa altura, veja, eu já sabia de certo<br />
que seria problema essa mulher por perto<br />
<br />
Mas que olhar! Que sorriso! E que cheiro gostoso!<br />
Essa mulher merece um pouco mais de esforço...<br />
E a parada vazia e a noite tão fria<br />
Não faria mal, aproveitar a companhia<br />
<br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Mas e se acontecesse de novo?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(e se você me visse) desviando do povo?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(e se você sentisse) minha mão gelada?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(e se você sorrisse) na beira da calçada?</div><br />
E pro meu infortúnio, mordiscou aquele beiço<br />
Ah, eu sabia, que eu iria perder a razão<br />
me disse que sentiu um arrepio<br />
e tocou a minha mão<br />
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Não sei de onde veio o berro que eu escutei<br />
Naquele momento, acho que eu despertei<br />
do feitiço maldito daquela mulher diabo<br />
E disparei pra salvar o meu rabo<br />
<br />
E então corri! Caí! Pulei! Perdi!<br />
E já em casa, quando dei por mim,<br />
E ouvi uma risada do corredor<br />
Tranquei a porta e me salvo do terror<br />
<br />
Então começo a chorar quando entro no banheiro<br />
Horror eu vejo mesmo me encarando no espelho<br />
Não paro de soluçar e de medo me ajoelho<br />
Ao olhar pra pia, vejo ali o meu isqueiro<br />
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<br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Mas e se acontecesse de novo?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(e se você me visse) desviando do povo?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(e se você sentisse) minha mão gelada?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(e se você sorrisse) na beira da calçada?</div><br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">E se! Ah, nunca mais!</div>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-28079740743432488352011-05-31T06:12:00.000-07:002011-06-30T16:34:16.642-07:00Salvando BollywoodAntes de entrar no avião de volta para casa, teria que me certificar que eu me fizesse entender: "ESTE PAÍS É FEITO DE LUNÁTICOS! ATÉ NUNCA MAIS!"<br />
<br />
Que tal começar do começo? Mais uma reunião no oriente. Bollywood tem novos projetos cinematográficos e quer americanos trabalhando para eles. Pois bem, cá estou eu. Infelizmente.<br />
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"Ah, senhor Tiger! Finalmente! Por acaso perdeu-se no caminho?"<br />
"É uma longa história, senhor Vhadrik. Pra começar, minha pasta foi roubada por um maldito macaco no aeroporto... E quando pedi o destino ao motorista, que o senhor garantiu que conheceria, ele me largou num bar imundo com o mesmo nome do seu estúdio. Pensei que já que deveria esperar outro táxi, por que não beber alguma coisa aqui mesmo? Talvez isso me matasse e eu não precisasse mais sentir o cheiro que emanava de todos os cantos daquela espelunca. Mas fora eu ter pisado na lama de um bueiro e ter que jogar fora meu mocassim, depois disso, correu tudo bem."<br />
"Hmm... Por acaso, sua pasta é parecida com esta?"<br />
"Sim! Mas como vocês--"<br />
"Caso o senhor não saiba, adestramos o "maldito macaco" para carregar sua bagagem como parte da recepção de nossos convidados. Disponha."<br />
"Desculpe, eu não--"<br />
"E o bar com o mesmo nome do estúdio pertence ao meu irmão."<br />
"Mas pelo menos o preço era justo."<br />
"É, ele está tendo problemas com a justiça e pretende vender o bar em breve..."<br />
"Pois é, meu pai tinha um bar, também, eu--"<br />
"...E a vigilância sanitária já fechou o bar duas vezes, talvez consiga pelo menos pagar a fiança do filho."<br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Hmm... Situação difícil."</div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Mas ele já está acostumado, é o quarto preso esse ano, é provável que não consiga."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Mas o que se pode fazer, afinal, não é mesmo?"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Ah, se aquele bastardo não fosse tão cabeça dura... Eu lhe disse pra aceitar casar com a nossa prima, mas não "O amor é mais importante irmão..." Que coma os ratos que ele cria no próprio fim de mundo que é aquele bar. Que vergonha para a família."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Desculpe, não percebi que havia um conflito fam--"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Conflito? Que nada, somos vizinhos... Almoçamos juntos lá todos os sábados!"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Ehr... Eu, é melhor irmos direto para o projeto, não é mesmo? Me conte, o que querem fazer?"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Um filme de ação mais moderno, ambientado na cidade, estilo Duro de Matar, Máquina Mortífera, sabe?"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Moderno?"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"É, trouxemos o melhor ator de ação de toda a Índia pra esse estúdio e o filme vai ser feito sob medida para ele. É o senhor Jigranindsa."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Hm, isso é perigoso, eu diria, vai saber como são esses atores daqui... Nem cheguei a vê-lo, o projeto todo está na minha pasta. Mas vamos ver isso. Ah, um cafézinho por favor, e mande rápido, que esta reunião já começou atrasada... Mas então, quem é o homem?"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Você acabou de pedir um cafezinho para ele."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Ah, me desculpe senhor Jigranindsa... Eu... Então, qual é o roteiro?"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Começa com o rapto da prometida dele, numa cidadezinha de interior. Ele descobre que é a organização terrorista Al-Qaeda que está por trás de tudo e inicia uma busca até chegar no QG deles e explodir tudo"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"É, parece bem... Indiana. Posso ver que o enredo não é tão conciso. Mas acho que o público engole com alguns milhões a mais em cenas de ação."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"... E Temos muitas explosões para vocês americanos."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"hehe, pois é, sei que têm."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Camelos também, muitos camelos."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Sim, sim, mas veja... O show business não se faz só com perseguições a camelo... O que eu quero dizer é que--"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"... Garrafas quebrando, estilhaços, faíscas, temos uma rampa para os jipes voando... Como pode ver, vai ser um sucesso garantido."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Tudo bem, mas..."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"... Temos quase uma tonelada de dinamite, vai ser o melhor filme da década."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"TUDO BEM, MAS... Mas vejo aqui que o protagonista tem 23/24 anos... E seu ator tem quase 50. É uma diferença bem visível, acho que talvez, por alguns momentos entre uma e outra explosões, parem pra pensar nisso... Um rapaz recém saído da faculdade com habilidades de um veterano da guerra... Alguma coisa não fecha... E tem mais, esse bigode o envelhece..."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Mas o quê!? Cortar o bigode, nunca!"</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Mas esse bigode já está até meio grisalho, não vai dar certo..."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"É a marca registrada do senhor Jigranindsa, está fora de questão. "</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Tudo bem, então é só mudar a idade no roteiro, acho que não vai atrapalhar em nada."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"O roteiro é o roteiro, fora de questão."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Adiante então..."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Temos então o clímax, uma perseguição automobilística cheia de emoção no meio de Nova Délhi, o público vai delirar."</div></div><div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Mas o filme não se passa num povoado no interior?!"<br />
"Pois bem, a perseguição começa lá, na verdade, numa área de conurbação."<br />
"Mas aqui diz que o povoado fica a mais de 200 quilômetros de lá!"<br />
"O clímax está planejado para durar aproximadamente sessenta porcento do filme, senhor Tiger... Nós assistimos à seus filmes, a América ama perseguições automobilísticas. Um sucesso!"<br />
"... Deixa eu adivinhar: carros voando?"<br />
"Como pássaros."<br />
"Explodindo?"<br />
"Pretendemos usar tanta dinamite quanto possível e queimar a retina dos espectadores, vão ficar sem enxergar direito durante uma semana. O filme vai ser um sucesso!"<br />
"Camelos?"<br />
"Uma perseguição automobilística sem camelos é como um Big Mac indiano feito de carne bovina, senhor Tiger, uma profanação da tradição cinematográfica indiana; Uma heresia."<br />
"Mas onde os camelos entram, exatamente?"<br />
"Logo após o carro do protagonista explodir."<br />
"Ele escapa logo antes, eu presumo... Acho que iremos precisar de dublês extras..."<br />
"De maneira nenhuma! Ele é impulsionado pela explosão de uma bomba implantada logo abaixo do seu banco e pousa suavemente sobre as costas de um camelo que sai atropelando um batalhão de trinta soldados armados, galopeando por cima de suas cabeças e chutando seus capacetes. Projetamos esta cena cômica para as crianças"<br />
"É a coisa mais incrível que já ouvi, vocês me surpreendem a cada novo detalhe! Aqui fala sobre helicópteros, o que tem isso?"<br />
"O protagonista salta de cima de um prédio de quinze andares e atravessa três helicópteros"<br />
"Não quero nem saber como ele chega até o décimo quinto andar com o carro. Helicópteros são caros, senhor, o senhor tem verba para isso?"<br />
"Não precisamos, é só repetir o take do carro atravessando o helicóptero três vezes seguidas."<br />
"Muito bom, vocês pensam em tudo, mesmo!... Um momento, vou até o banheiro, não aguento tanta ação em tão pouco tempo, heh!"<br />
<br />
"Sim, vá, senhor Tiger, temos muito mais explosões para o senhor... Viu, senhor Jigranindsa, os americanos adoram nosso cinema. O senhor vai brilhar e nós ganharemos o mundo. Foi fácil convencê-lo, não?"<br />
<br />
"Até nunca mais, otários."<br />
A porta se fecha e eu volto para o mundo real, um sonho expressionista de odores, cores e pessoas. O que Orson Welles diria? Nada, provavelmente ele não seria tão maluco de vir para cá.<br />
<br />
Inspiração pro texto me veio <a href="http://www.youtube.com/watch?v=imM6omziU_I">DAQUI</a><br />
Postado também no <a href="http://ocoelhoholandes.blogspot.com/2011/05/salvando-bollywood.html">COELHO HOLANDÊS</a></div></div>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-35780628394285831592011-05-01T16:06:00.000-07:002011-05-01T16:06:38.987-07:00Aviso!Aviso à quem se interessar que estou agora postando também no <a href="http://ocoelhoholandes.blogspot.com/">Het Nederlanse Konijin</a>, o blog do <a href="http://twitter.com/miroez">@miroez</a> com uma proposta parecida com a deste aqui. Tem muita coisa bacana lá, vários autores e posts regulares (se te incomoda essa permanente inconstância d'o grande merecedor...). Acessem!Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-19811348072480286582011-05-01T15:51:00.000-07:002011-05-01T16:08:13.272-07:00O Rio das Almas(...)"E, afinal, o que seria de mim? Nada, meu senhor! Nada..."<br />
<br />
"E isso, acaso, é motivo de preocupação? Ora, um nada por outro."<br />
<br />
"Seu desdém me espanta, meu senhor. Me pergunto se há algum coração perdido dentro de ti, ou é vazio completo."<br />
<br />
E tocava-lhe o peito com estocadas vigorosas de um indicador calejado, como se fosse provocar além de asco, alguma reflexão em seu senhor. Acreditava, ingênuo, que algo como o gérmen do questionamento moral fosse impugnado em seu senhor por cada vez que o tocasse. Talvez não o tenha tocado tantas vezes quanto o necessário.<br />
<br />
"Por que motivo gasta teus pensamentos com objetivo tão fútil? Compaixão é o refúgio dos inseguros, dos perdidos e dos que a necessitam tanto quanto cedem. Ademais, não faço a linha da demagogia, e se me dou ao desserviço de falar-lhe é com sinceridade."<br />
<br />
"Ha! Sinceridade mordaz! Qual ninguém presta-se a ouvir. Do contrário, invades o cérebro de quem te aproximas com sua língua ferina, não te poupas de golpes à navalha mal-afiada em cada ouvido do teu semelhante, se for; te comunicas com a cortesia de uma víbora antes do bote. E não me ponha na cara esse seu vocabulário vil. Tua imagem me aparece em pesadelos e eu os vivo todos os dias na obrigação de lhe ser fiel. A que ponto chega-se! A insanidade me tomava ainda esses dias do mês... Amaldiçoo agora a maldição que roguei ao negro dia em que conheci tua terra. Tão cego de ira que tornei-me, culpei a mim, a ela e a Deus, meu bom Deus, que julgo eu não ter conhecimento de sua existência, por não ter fulminado o senhor quando lhe cabia, no início de seu surgimento neste mundo! Desde cedo, o sacrifício de sua doce mãe para trazer-lhe à vida já mostrava a quê o senhor veio: o infortúnio. O senhor é quem traz os corvos até os cadáveres, é o senhor que espalha os insetos pelas casas, é o senhor que traz a peste! Esta terra negra guarda o sangue dos teus desafetos, e bebemos o sangue deles ao comer o que esta terra nos dá de comer! Tenho confissões que sobressaltam o vigário, de descrições da minha sede de revide! É o pior que fazes: Contamina com teu veneno e torna teus servos pares de ti em perversidade... Acaso tivessem o teu poder, tua história teria há muito sido feita esquecida."<br />
<br />
Enquanto o servo vociferava seu monólogo, o senhor apenas arqueava suas sombrancelhas, demonstrando que havia algo de esperado na cena. E algo que esperava-o depois.<br />
<br />
"Faz o que te mandam quando viram-te as costas e não podes mais ouví-los: Fode-te! Dana-te! Dana-te!"<br />
<br />
E parte em direção ao seu aposento, certo de que não tardará e a desforra senhorial pousará sobre sua cabeça, ou estrangulando sua traquéia ou perfurando seu peito. Tinha pensado em algo que coubesse num momento como este havia tempos, mas convencera-se de que seu lugar. Embora lhe interessasse a idéia de um atentado contra seu senhor, era preciso bom-senso. A captura por homicídio de seu senhor traria muito mais determinação para o seu carrasco do que a simples blasfêmia. Por último, havia pensado em Deus, mas se Deus resguardava-se quanto à postura de seu senhor, teria alguma simpatia por um humilde servo que perdia mais tempo em igrejas do que na terra a trabalhar. Começa a juntar suas coisas.<br />
<br />
"Pietro..."<br />
<br />
"Sim, meu senhor?"<br />
<br />
"Busque e escolte o senhor Yuri à sua nova morada, o 3º estábulo. Que seja a definitiva, entendeste?"<br />
<br />
"Sim, meu senhor."<br />
<br />
"Ah, e Pietro... A cidadela não deve achar-se informada dos terríveis desígnios que Deus, o bom Deus reservou ao seu companheiro, sim? Os cães estão sempre famintos."<br />
<br />
Os segundos seguiam-se rápidos demais nos movimentos apressados de Yuri e espaçosos no caminhar calmo de Pietro. A porta se abre e Yuri vê seu algoz de longe, e ele também é visto. A obviedade da fuga faz Pietro lançar-se numa corrida despassada enquanto busca o facão na cintura. Os pertences foram jogados como obstáculos. O brilho metálico anuncia que é seu fim nesta terra ou recomeço noutra mais distante, no Rio das Almas. Era dia um dia claro. E ele se perguntava onde estava Deus. Talvez ele não tenha acordado hoje, pequeno.<br />
<br />
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Também no <a href="http://ocoelhoholandes.blogspot.com/">Het Nederlanse Konijin</a>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-42653375256362767302011-03-25T10:46:00.000-07:002011-03-25T10:46:21.689-07:00Constrangimento desnecessárioEntão, eu ia te contar... Terça-feira, saindo de casa à noite, dou de cara com o meu vizinho e a amante, eis que ele olha para mim e rapidamente tenta disfarçar tirando a mão da bunda dela e guardando no bolso. Ele me cumprimentou todo consternado, constragido, como todo adúltero revelado... Ah, já vi muitos, haha... Não, não vou delatar ninguém... Quarta-feira, -tenho certeza!- ele vai me parar pra esclarecer que ela era só uma "cliente importante"; Mas e daí? Foda-se! É engraçado e trágico: o cara tem uma amante e jura que isso é algo que o mantém fora de órbita, fora da realidade; digo, talvez essa seja a única vaidade dele, e ele nem pode dividir com a esposa. É capaz de tentar me convidar pra ver algum jogo em um boteco ou me chamar pra jogar bola com o pessoal do trabalho, com quem ele nunca atingiu o nível de intimidade necessário pra confessar que come uma amiga antiga porque sabe que vão acabar pensando "Mas que merda ele quer dizer com isso? Será que esse imbecil acha mesmo que somos tão parecidos com ele?". É capaz de fazer isso só pra se abrir comigo, só pra fazer alguma coisa diferente. Talvez até, ele tenha se empolgado na primeira vez que ela sentou sobre as coxas dele e num momento tenha visto a vida dele mudar, a garota ligando pedindo ajuda, convencendo ele a se mudar com ela e tornarem-se felizes de verdade. "Olha cara, eu até tenho pena de você, mas... Tente botar alguma coisa positiva na cabeça; as pessoas fogem de você como se fossem morrer de tédio sentindo você estuprando seus ouvidos com suas reclamações das reclamações da sua esposa e casa e vida, entende?" É o que eu queria dizer pra ele... "Olha, ninguém nasce pra ser medíocre." É claro que se eu dissesse isto, o homem é capaz de pintar as paredes do quarto com os miolos. Pensando bem, ele ia me agradecer o conselho e continuar do meu lado esperando que eu fale mais para que ele possa concordar mais comigo, e continuar lá, parado, olhando pro chão, assentindo que me escuta enquanto eu mando ele chutar o balde. Ainda assim, é capaz de voltar pra casa e literalmente chutar um balde e esperar pra ver o que acontece. Porra, entende? Ok, ele não pode ser tão burro, mas o que eu digo é que ele não pensa! E eu nunca conversei com ele! O infeliz denuncia a própria mediocridade com um chiclete que nunca para de mascar e a indecisão de se esconde ou escancara a calvície... Tenha dó? Que nada, se eu demonstrasse isso pra ele, eu disse... O cara se mata, ou inventa de ficar puto comigo, depois percebe que eu não dou a mínima e aí sim, se mata. Não, ele não é do tipo que sofreu <i>bullying, </i>EU sofri bullying, me jogaram num tambor de lixo, lembra? E ainda assim, converso até hoje com os caras que me fizeram isso, Haha! Nem fuzilei meus colegas, nem virei crente... Eu vejo isso e ele não vê, e isso me dá raiva, mas não dele, e sim do cérebro das pessoas. Ah, porque se eu falasse isso, como eu disse, é capaz do cara ficar encucado, bitolar, do tipo: "Será que só eu não vi que minha vida era tão insignificante?", e, de repente, essas palavras: "Insignificante", "Idiota", "Arrependimento", "Desperdício", tudo isso adquire algum significado maior, parece... Ah, eu sei do que tô falando, tive depressão na adolescência, amores platônicos da puberdade, você lembra das minhas espinhas? Então...<br />
<br />
Espera, vou pegar o ônibus, tô indo jogar pôquer com o pessoal da faculdade... Ih, semana passada já penhorei a aliança, haha. Beijo, te ligo mais tarde. Também te amo, amor. Tu sabe que é só de ti que eu preciso.<br />
<br />
Clic.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-12934892686372457372010-10-26T17:56:00.000-07:002010-10-26T20:20:04.286-07:00Aquela sobre o bar da sinucaO Bar *** era onde as grandes lendas e as potenciais estrelas da sinuca amadora se enfrentavam. Os seniores e os juniores apoiavam seus tacos nos dedos com graça e, por estarem completamente embriagados, os mais velhos tornavam-se mais ágeis e ousados e os jovens mais pesados e lerdos: em pé de igualdade. Tratava-se então de sinuca ilustrada, com influência talvez, da revolução burguesa da França, no século XXVIII, e, mesmo nesse caso, duvido que algum dos frequentadores desconfiasse do fato.<br />
<br />
Dos velhos ideais, havia também a fraternidade e liberdade: ao derrotado restava um gesto simbólico de fineza, que desembolsasse uns níqueis a mais numa cerveja para seu rival; e, se a partida tiver sido boa mesmo, se tiver feito o coração do seu carrasco palpitar e pedir por mais, se o povo tanto se deixasse levar pela partida que, num sacrifício maior, repousasse a cerveja de lado e voltasse as vistas para a mesa, sobrava-lhe a honraria de aceitar uma dose mais-do-que-especial da cachaça da prateleira de baixo que lhe seria cedida à crédito. Cana essa que, mesmo na penúria da derrota por centésimos de centímetros (culpa da mesa, veredito unânime), teria sabor de vitória; cana essa, provavelmente vinda de um alambique caseiro da colônia; Enfim, reservada aos guerreiros da tribo dos <i>índio véio</i>, a um autêntico gaúcho peleador.<br />
<br />
A liberdade ficava entre os limites da paciência do dono do bar. Excetuando-se fiado, fazia-se o que se quisesse lá dentro. Acontecia, porém, de ninguém estar interessado em nada mais do que sinuca, cerveja e trova fiada. O dono às vezes fazia concessões e os botequeiros agradeciam-lhe pedindo para que segurasse o troco ou que o convertesse em guloseimas da <i>bomboniére. </i><br />
<br />
O banheiro tem uma longa história: Não havia água na torneira, qualquer tipo de sabão ou sabonete, papel para secagem das mãos e nem chave na porta. Sequer uma fechadura de verdade; o que havia era um cordão preso por duas voltas na maçaneta que, ao ser enlaceado no gancho do porta-toalhas, deixava ainda uma fresta que permitia a quem estivesse do lado de fora enxergar uma perna e eventualmente, um braço tremelicando. Embora com a ausência de tais elementos talvez constate-se a perda efetiva da função sanitária de um sanitário, garante o dono que é "tudo absolutamente justificável": Não há água na torneira, pois o pessoal sempre esquece de fechá-la após o uso. E alguém, que ainda não foi identificado -"ainda", frisa o dono- andava vomitando ali- Gasta-se mais com limpeza do chão e desentupimento da tubulação do que com o efetivo asseamento das mãos. Sobre o sabão: Já se engasgaram com o sabonete e beberam no bico o tubo de detergente que o dono cogitou ser uma prevenção para outro acidente com o sabonete. O papel pós-enxague das mãos foi substituído por um pano da casa do dono, para efeito de corte de gastos. Aí roubaram o pano e esgotou-se a última tentativa de manter-se a dignidade do banheiro, junto com a paciência do dono. "Cortei tudo.".<br />
<br />
Basta de descritivismos espaciais; a maioria da população de país qualquer de terceiro mundo como o nosso é testemunha do nascimento de um barzinho; são iguais em espírito, e de vez em quando vemos o brilho da fachada se apagar pra sempre até que seja transformada numa farmácia ou brechó, no pior dos casos, num salão de beleza. Voltemos nossa atenção para uma cena qualquer, dentro do aconchego das quatro paredes do bar.<br />
<br />
Paulo Tigre jogava naquele bolicho todas as tardes de sábado, até o alvorecer do domingo, e era compromisso sagrado, sacríssimo. Não seria de se surpreender, mas se ocorresse de faltar aniversário de neto, por exemplo, era de certo que estivesse lá. Para acertar qualquer outro compromisso, sábado era dia morto. O dia em que ele vivia de verdade. Sinuca, cerveja e trova fiada.<br />
<br />
Havia um mês que não aparecia nem para cumprimentar o dono ou molhar o bigode com os companheiros do ***. No estranhamento, uma das teorias era a de que talvez houvesse se dado bem e mudado de vida... Loteria, mulher rica ou um filho bem-sucedido e não tão desgarrado tinha voltado para buscá-lo do fundo do poço que era a vida insossa de um velho sinuqueiro aposentado. Não era intriga, não senhor; Estavam todos embriagados, e felizes divagando, esperando que o mesmo ocorresse com eles. Expunham suas expectativas acerca do retorno do que era na época de criança de cada um, em matéria de amor familiar. Histórias alegres, nostalgia e ocasionalmente, uma lágrima de saudade que ficava trancada nos limites da pálpebra, presa pela encabulação de se chorar por uma prosa boba na frente dos homens, velhos ou novos, uma fraqueza que não cabia num ambiente e era recolhida por um dedo indicador gordo e áspero, engrossado durante a vida no quartel ou nos labores de alguma construção ou várias. A lágrima é então analisada com um sorriso que garante que ela veio sozinha e guardada a esfregões nas costas da blusa. Guarda-se a lágrima para dividirmos com a esposa em casa, ou então com a foto da falecida em cima do criado-mudo. Então levanta-se, passa-se giz no dedo úmido, e de volta ao jogo.<br />
<br />
A notícia chegou, e o dono até fechou o bar naquele dia e no próximo. A comoção foi geral, e botou-se até um cartaz de luto na porta. Paulo Tigre ficou pela bola oito, pendurou o taco, mijou, puxou a cordinha, testou a torneira, fechou a braguilha e a conta e foi-se pra não voltar.<br />
<br />
Boteco, bodega, barzinho, bolicho; O *** era tudo isso. Apagou sua estrela na mesma semana que Paulo Tigre apagou a sua, na cama de casa. <i>Causa Mortis:</i> Complicações causadas por uma infecção que depois espalhara-se para o resto do corpo, contraída no ato de puxar a cordinha da caixa de descarga, assim como muitos outros antes dele, que ali livraram-se das suas podridões intestinais e não lavaram as mãos. A vigilância sanitária pegou duro por lá. Nunca haviam visto o dono chorar antes, e ele chorou ao ver seu bar fechado e os dizeres no aviso de interdição. Ali se ergueu mais um bar , mas em pouco tempo, o dono se matou, a sua senhora entrou em depressão e o filho começou a fumar <i>crack</i> antes, e depois antes e depois, e depois durante o horário em que deveria estar na escola. Aí colocaram lá uma farmácia. E o pessoal trocou de bar, agora têm que atravessar a rua pra chegar lá. Mas o espírito é o mesmo: Sinuca, cerveja e trova fiada.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-84921572088226906852010-10-13T17:30:00.000-07:002010-10-15T09:55:21.127-07:00LoteriaMe rendi à pieguisse de sonhar com a vida fácil. A gente acha que expectativa é uma coisa bem tola. Mas é só quando não é atendida. Ontem, era milionário. hoje, eu e 193 milhões de brasileiros acordamos 119 milhões de reais mais normais. <br />
<div><br />
</div><div>Chamamos expectativa de esperança, quando queremos engrandecer uma meta. Eu tinha só expectativa, havia quem tivesse esperança. As minhas expectativas não foram atendidas. Há aqueles que perderam as esperanças. Acontece todo dia.</div><div><br />
</div><div>Vi ontem, durante a viagem de ônibus até o centro, uma mulher de uns 30 e poucos anos, negra; a cor e a dor da colonização torpe; tudo isso dentro de formas antiestéticas, reclinada no meio-fio, braços e pernas estirados em extensão máxima e olhos fechados. Atropelamento. </div><div><br />
</div><div>Me veio à cabeça, então, uma divagação de viagem: de que ela estivesse no caminho de volta de uma agência da Caixa, e acabara de retirar sozinha o prêmio da Mega-Sena. Sai de lá e sua vida se transforma de um jeito, que torna a filosofia mais vã e a matemática menos exata, a física torna-se plástica e a química menos odiosa. O sentido do curso da vida se inverte, 180 graus de mudança. Tudo se dobra, se ajoelha ou desaparece quando ela não está olhando, é tudo indiferente ao olhar dela, que não vê. </div><div><br />
</div><div>180 graus é um ângulo raso, uma linha horizontal. Isso me lembra que ela está deitada na calçada. Minutos depois no hospital, o diagnóstico é coma. Ela é agora um vegetal. Um feijão, que vale ouro. Mas que depois de posto na panela, é só mais um feijão.</div><div><br />
</div><div>O sentido se inverteu, mas a direção continua a mesma;</div>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-65371799330777113652010-10-05T19:00:00.000-07:002010-10-15T09:43:53.948-07:00Sobre dias de surpresaSão sete e meia, e os cidadãos incautos de Porto Alegre estão deixando suas casas, esposas e esposos e filhos sob a guarda da prece da manhã; não apenas é a hora da refeição mais importante, mas a da reza brava também. Quem não o faz, mantém suas cercas elétricas energizadas, seus cães bem alimentados e os salários dos empregados pagos em dia; esses podem se dar ao luxo de deixar a oração para os padres.<br />
<br />
Abre-se então a grade de ferro maciço, a fechadura de baixo, a da porta e pronto, se está fora de casa, ar puro e... Há ainda o portão de ferro, que permanece chaveado por todas as vinte quatro horas de que o dia dispõe. É a chave nova, que foi trocada porque a vizinha do apartamento de baixo foi assaltada ali na frente na quinta passada. Ali, na frente de todo o mundo, na avenida, lá pelas oito da noite, horário de risco, ora. Ela decerto ainda saiu vestindo algum farrapo: a saia e a blusa exuberantemente explícitas, quase um tapa-sexo. Pediu pra ser atacada, e se não fosse por bandido, coisa pior, polícia e tal.<br />
<br />
Atravessa-se a rua e corre-se, que o sinal está aberto, mas o trânsito ainda está chegando na esquina. Não encare as pessoas por algum tempo enquanto anda. As coisas são diferentes por aqui e ninguém se conhece; não deve-se estranhar com o estranhamento das outras pessoas, já que estranha-se com qualquer coisa por aqui. Não há motivos para preocupação com essas pessoas, elas hão de estar aí amanhã novamente.<br />
<br />
O ônibus chega sorrindo, quase agradecendo cada passo dado dentro dele. Gentilmente nos leva e traz de qualquer parada ao preço de uma refeição. Levante-se para os velhinhos e não olhe torto para aqueles que ouvem suas músicas em alto volume, você consegue sobreviver com a música ruim, mas com uma bala na cabeça, torna-se mais difícil; Cada moleque é um potencial psicopata.<br />
<br />
Durante a jornada de trabalho, atenta-se à presença de possíveis mal-intencionados ou de gastadores. Se dá tanta atenção para um quanto para o outro, por razões absolutamente diversas. O Carlton azul do intervalo destila o estresse de ter que ver aquela vaca de mocassim devolver a mercadoria por achar que o casaco de lã não acertava bem na cintura. Besteira, ela precisava é de um regime, não de um outro casaco. Aí, faz um escândalo todo pela demora na troca... O problema estava no programa no computador, mas a velha, com aquele dedo em riste, <i>parkisoniando </i>na sua cara, não queria saber. Depois da última baforada, sobra o filtro, a cinza, e a cara da velha pra se rir depois.<br />
<br />
De segunda à sexta-feira, são dias de surpresas. Desde o acordar até a hora de dormir, acontecem massacres no morro, acidentes de trânsito, milhares de presos por tráfico e milhões são desviados para o bolso de políticos. Sábado e domingo são dias comuns, fica-se em casa, sem surpresas; Podem ser boas ou ruins, boníssimas ou péssimas. É melhor não arriscar. Liga-se a tevê e hiberna-se até que a segunda-feira chegue, e então, pânico novamente.<br />
<br />
O cotidiano é, afinal, um processo majoritavelmente insosso que reserva imensas quantidades de emoções, das mais diversas. Mas se faz de tudo para evitar qualquer contato com elas.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-16118866979473771202010-09-25T13:11:00.000-07:002010-10-15T09:45:23.079-07:00Ode ao Brasil, por meus excelentíssimos eleitosSou um pouco sádico, eu admito.<br />
Tudo dentro dos limites diplomáticos, esteja dito!<br />
Eu gosto dos que fazem carão,<br />
dos que querem chutar o balde! E aí, quando se molha a mão...<br />
(é claro que há os que se banham de corpo inteiro)<br />
<br />
Saem com o rabo entre as pernas, o remorso lhes apeia no coraçãozinho;<br />
Sentem-se sozinhos.<br />
Mas o que é isso?!<br />
Estamos entre amigos!<br />
<br />
Se acha que voltas pra casa mais sujo,<br />
se lhe anseia quanto ao risco,<br />
Tenho pai, primos e um padrinho muito corujo,<br />
Ah, não te acanhes, somos donos do fisco!<br />
<br />
E, sobretudo, lembra-te, meu querido...<br />
<br />
Como posso ter-lhe apreço<br />
Quando nunca lhe falei, não lhe conheço?<br />
E, -Por deus! Até Marx me aplaudiria!- teu prefixo me mostra quem és<br />
E não compactuo com direitista burguês!<br />
<br />
Vês? Não é barato, mas é o preço de manter as coisas andando neste meu Brasil:<br />
-Seu e meu, companheiro... <b>Nosso Brasil...</b><br />
<br />
Bota abaixo, meu povo! Bota abaixo de novo!<br />
<br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">O que é pobre, se mexe sozinho, é vivo e nocivo. Mas... Dá pra esquivar, Vossa Excelência.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">O que é bom, a gente vende, senhor governador!</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">O que é bonito, a gente que construiu, sim, meu povo de nosso senhor Jesus Cristo Lula da Silva!</div><div><br />
</div><br />
Tudo é negócio: a gente compra, aluga, empresta e entrega nossa gente pra Polícia Federal.<br />
<br />
<br />
E que não sobre um!Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-75981812268361586402010-09-20T16:36:00.000-07:002010-10-15T09:46:59.619-07:00A paixão dos flamingos-Boa noite, meu <i>fricassée</i>zinho!<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Eles formavam um casal incomum.</span><br />
<br />
-Adoro escorregar meu rosto na tua cara oleosa!<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Ok, talvez eu os tenha subestimado. São de fato um tanto incomum.</span><br />
<br />
-Amo o gosto do teu bigode!<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Mas estavam </span><i><span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">in love</span></i><span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">.</span><br />
<br />
-Quando tu chegas do trabalho com o cheirinho da padaria, eu perco a razão!<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Pessoalmente, eu acho engraçado.</span><br />
<br />
-Não venha colocar este dedo chupado na minha orelha, que eu te jogo na cama e tiro tuas cutículas!<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Tudo bem, acho que é hora de deixarmos a sós, os dois pombinhos.</span><br />
<br />
-Deixe que eu roa tuas unhas, meu <i>croissant di pepperoni!</i><br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Pombinhos?... Não, deve haver um animal mais... Adequado. Javalis? Mas esses dois são tão delicados! Avestruzes? Não, não tão estranhos. Talvez um casal de flamingos: são lindos, mas não deixa de ser um estranho.</span><br />
<br />
-Vou baixar o fogo do chuchu recheado, bote a roupa do <i>Indiana Jones</i> e me espere dentro do armário...<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;"><br />
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<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Ok, talvez eles não saibam que estão sendo observados; é melhor ligarmos a tevê e esperarmos que as coisas dêem certo para o </span><i><span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Indie</span></i><span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">.</span><br />
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-Use esse chicote em mim!... ISssSSO! Assim mesmo! Me explore, professor Jones!<br />
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<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;"><br />
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<span class="Apple-style-span" style="color: #f9cb9c;">Hmm... Você devia ter vindo num dia em que eles estivessem brigando.</span>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-65686952747367985982010-09-13T18:35:00.000-07:002010-10-15T09:46:28.800-07:00Das pessoas e suas fasesPaulo Tigre não gostava de polenta.<br />
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Nem de comida de ontem.<br />
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Nem de gordurinha na carne, nem de nervinho.<br />
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Vinagre?<br />
"-E quem quer saber de água azeda?"<br />
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Paulo Tigre nunca lavou uma parede. Nem nunca trocou a roupa de cama. Nem havia cozinhado comida de verdade. De verdade, eu digo! Arroz com carne! Feijão! Estrogonofe! Cebola! Alho! Feijão! Feijão!<br />
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Era virgem de sabão em pó, vassoura-e-pá, esponja de aço, colher de pau, tanque...<br />
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E ÔNIBUS! O RAPAZ NUNCA PEGOU UM ÔNIBUS SOZINHO!<br />
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<div style="text-align: center;">...E foi morar sem os pais</div><div style="text-align: center;">e gostou da coisa.</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;">Acorda, toma café e vive nas aulas. E morre em casa.</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;">Tem tesão pela louça suja.</div>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-52396189530401897472010-09-09T11:25:00.000-07:002010-10-15T09:47:19.816-07:00Sobre as tentativas de morte auto-inflingidaPaulo tigre tinha um problema com a sua falta de vontade e de atitude. Certa vez tentou se matar com cicuta. Na verdade, não chegou a tentar, porque não havia encontrado cicuta na cidade. Na verdade nem saiu pra procurar: alguém tinha lhe dito que não havia cicuta na cidade e ele acatou a dica. Tecnicamente, ele nem chegou a perguntar; Apenas notou o fato de que em vez nenhuma havia ouvido sequer um comentário sobre cicuta durante a sua vida.<br />
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Então mudou de idéia: asfixia por CO2, dentro da garagem. Esperou os pais irem dormir e desceu as escadas. Com a chave na mão direita, ligou o carro. Mas Paulo tigre não tinha noções de direção automobilística e não havia notado que a marcha ré estava engatada. Num solavanco veloz, o carro disparara para trás e voara até o portão, empurrando-o para fora. Com 16 anos estampados entre espinhas e penugens no rosto, não foi difícil arranjar uma desculpa melhor do que uma tentativa de suicídio para o caso.<br />
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A verdade de verdade é que Paulo não era um grande exemplo de suicida. Desde as decepções amorosas da adolescência até a descoberta da dor sexual já no fim dela (digamos que paulo tigre começou do jeito errado), havia plantada em seu coraçãozinho a semente da tristeza crônica, mas ele já havia descoberto um meio alternativo e não tão extremo de exteriorizar esta fraqueza de espírito. Ele hoje escreve bobagens num blog. Cada um com seus pobrema.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-26999949160637583162010-09-02T11:02:00.001-07:002010-10-22T19:26:18.540-07:00Sobre a guerra de canudosNão, Paulo tigre não esteve lá.<br />
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Antônio Conselheiro, Lampião, Maria Bonita... Paulo tigre não viu nenhum deles.<br />
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Nunca sentiu o cheiro da pólvora e do sangue no deserto do semiárido, nem viu os corpos chacinados dos revoltosos, nem viu Euclides escrutinando a paisagem.<br />
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Estava no Rio, bebendo Coca-cola e comendo um Bigmac, com seus amigos latifundiários e exportadores de café, aproveitando o que a velha república tinha a lhe oferecer.<br />
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Se a guerra de canudos não está nos video-games, então não, Paulo tigre nunca estará lá.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-22525520000424296182010-08-31T14:01:00.000-07:002010-10-15T09:47:42.500-07:00Das explicações.Nunca fui fã de blogs em que o autor fala sobre suas próprias impressões. Vocês podem guardar para si suas impressões acerca do mundo, do círculo pop, da sociedade, das coisas simples da vida... Admiro quem tem tempo para divagações e para tecer teorias, mas me aborreço ao ler e quase poder sentir o ego de quem gosta de alardear suas opiniões. Não abro uma página na Internet querendo me identificar. E por que, então, estou falando de mim, aqui?<br />
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</div><div>Porque este é o primeiro post, o das explicações.</div><div><br />
</div><div>Criei esse novo blog porque me encontrava descaracterizado em relação ao<a href="http://hailbaby.blogspot.com/"> Hail to the King, baby!</a>; bateu a sensação de que uma coisa já não te dá mais prazer. É como tentar sexo aos 70. </div><div><br />
</div><div>Enfim, senti a necessidade de me expressar; Aquela que dá antes de você resolver criar um blog e ainda depois de perceber que os 140 caracteres do passarinho azul não são o suficiente.</div><div><br />
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</div><div>-Sozinho e sem dinheiro, Paulo Tigre cria um novo blog. Será o início de uma nova jornada de aventuras de tirar o fôlego? Ou uma monótona visita ao universo broxante que existe dentro de seu crânio, repleto de vazio e piadas-fáceis? Enquanto pensa numa maneira de acabar o primeiro post com uma piada, Paulo Tigre desliga o computador e vai estudar.</div>Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9122510892037782710.post-37162036766692583012010-08-18T19:00:00.000-07:002011-08-18T10:53:20.241-07:00"Está implícito" significa "não pergunte"Andava com aquela cara complacente de quem não tem muito a dizer, mas que pensava em muitas coisas. E então, de repente, como se tivesse sido empurrado de uma janela de um edifício alto o bastante para transformá-lo numa poça bizarra de partes internas e mucosas misturadas ao seu próprio o sangue, exclamou, no meio da rua dos Andradas:<br />
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"-As pessoas que vão deixando buracos em mim, e eu não consigo encontrar quem os tape de volta. Vou acabar ficando vazio"<br />
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Meu tio enlouqueceu há uns anos atrás, na semana em que perdeu o emprego de anos para um cara mais novo, havia perdido a casa por dívidas no banco e terminou por descobriu que sua mulher o traía e chegou em casa bem na hora que ela estava fazendo as malas pra fugir com o cara; o amante estava lá e havia resolvido levar algumas coisas dele, os dois iam sumir, mesmo. Havia encontrado um revólver, calibre grosso; meu tio ouviu um pouco da conversa dos dois e abriu a porta com força, o bastante pra assustar o cara; Mas o cara era um cagão, não teve coragem de atirar, meu tio voou com tudo pra cima dele e o revólver disparou, pegou de raspão no braço do cara e o filho-da-puta deu uma coronhada na testa dele. Não entendo muito de cérebro, obviamente o negócio foi sério, tanto que meu tio não lembrava de nada. Também começou a falar o que vinha na cabeça aleatoriamente.<br />
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"-Vou ficando cego pras coisas grandes e daltônico pras pequenas, sabe? Mas, ô, Palique, você desde pequeno tem cores tão bonitas."<br />
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O Palique sou eu, Paulo Tigre. Eu sei lá, você tem que compreender que não é fácil. Eu encontro alguém aqui e não digo que estou caminhando sozinho. E tenho que rezar pra que ele não berre alguma coisa que me faça ter que acalmá-lo. Eu não me ofereço pra sair com ele, mas não nego se me pedem. Ainda mais se ele pede. É até estranho quando ele articula alguma frase em seu sentido perfeito, uma ordem ou uma contatação que faça a gente olhar pra ele esperando que depois dela venha mais uma assim e que, do nada, faça ele voltar ao normal: "(...) -tá meio abafado aqui, né? Vou dar uma caminhada, preciso de ar fresco."- daí ele limpa a boca com um guardanapo, põe a colher ao lado do prato de sopa, olha pra mim e me encara por uns 3, 4 segundos e eu aceno que concordo com a cabeça e a gente sai. E depois disso não diz mais nenhuma palavra até a gente voltar:<br />
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"-Que vento frio, cortante! Devo estar sangrando, melhor fazer um curativo pro corpo inteiro. E um pra alma."- faz o sinal da cruz e começa a rezar um Pai-nosso.<br />
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Talvez o que eu realmente goste nele é a ingenuidade imponderada do que ele fala quando está tudo silencioso, ou tenso principalmente. Às vezes ele abre a boca e é como um isqueiro tipo Zipo no meio da floresta, faz uma onomatopéia pra acordar todo mundo, acende uma tocha e, refletindo a chama em amarelo bem vivo nos olhos deles, sinaliza a presença de todo tipo de predadores. Aí, a chama se esconde dentro da tampinha e você fica esperando o bote de algum deles. Jesus, com essas metáforas, vocês vão achar que o louco sou eu.<br />
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"-"Está implícito?" Mas será possível? Agora quer dizer que "Está implícito" significa "não pergunte!?" Essa gente que cochicha o que ninguém quer ouvir, vocês têm que GRITAR!"- sentado na frente da tevê.<br />
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Meu tio não é nenhum Antônio Conselheiro. O que ele fala faz certo sentido quase sempre, e não é preciso muito esforço pra que as nuvenzinhas de pensamento que pairam sobre a sua cabeça se conectem com a realidade, mas acho que todo mundo desistiu de tentar encontrar ele nas suas próprias palavras.Paulo H.http://www.blogger.com/profile/08165531319496538698noreply@blogger.com0