terça-feira, 31 de agosto de 2010

Das explicações.

Nunca fui fã de blogs em que o autor fala sobre suas próprias impressões. Vocês podem guardar para si suas impressões acerca do mundo, do círculo pop, da sociedade, das coisas simples da vida... Admiro quem tem tempo para divagações e para tecer teorias, mas me aborreço ao ler e quase poder sentir o ego de quem gosta de alardear suas opiniões. Não abro uma página na Internet querendo me identificar. E por que, então, estou falando de mim, aqui?

Porque este é o primeiro post, o das explicações.

Criei esse novo blog porque me encontrava descaracterizado em relação ao Hail to the King, baby!; bateu a sensação de que uma coisa já não te dá mais prazer. É como tentar sexo aos 70.

Enfim, senti a necessidade de me expressar; Aquela que dá antes de você resolver criar um blog e ainda depois de perceber que os 140 caracteres do passarinho azul não são o suficiente.



-Sozinho e sem dinheiro, Paulo Tigre cria um novo blog. Será o início de uma nova jornada de aventuras de tirar o fôlego? Ou uma monótona visita ao universo broxante que existe dentro de seu crânio, repleto de vazio e piadas-fáceis? Enquanto pensa numa maneira de acabar o primeiro post com uma piada, Paulo Tigre desliga o computador e vai estudar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"Está implícito" significa "não pergunte"

Andava com aquela cara complacente de quem não tem muito a dizer, mas que pensava em muitas coisas. E então, de repente, como se tivesse sido empurrado de uma janela de um edifício alto o bastante para transformá-lo numa poça bizarra de partes internas e mucosas misturadas ao seu próprio o sangue, exclamou, no meio da rua dos Andradas:

"-As pessoas que vão deixando buracos em mim, e eu não consigo encontrar quem os tape de volta. Vou acabar ficando vazio"

Meu tio enlouqueceu há uns anos atrás, na semana em que perdeu o emprego de anos para um cara mais novo, havia perdido a casa por dívidas no banco e terminou por descobriu que sua mulher o traía e chegou em casa bem na hora que ela estava fazendo as malas pra fugir com o cara; o amante estava lá e havia resolvido levar algumas coisas dele, os dois iam sumir, mesmo. Havia encontrado um revólver, calibre grosso; meu tio ouviu um pouco da conversa dos dois e abriu a porta com força, o bastante pra assustar o cara; Mas o cara era um cagão, não teve coragem de atirar, meu tio voou com tudo pra cima dele e o revólver disparou, pegou de raspão no braço do cara e o filho-da-puta deu uma coronhada na testa dele. Não entendo muito de cérebro, obviamente o negócio foi sério, tanto que meu tio não lembrava de nada. Também começou a falar o que vinha na cabeça aleatoriamente.

"-Vou ficando cego pras coisas grandes e daltônico pras pequenas, sabe? Mas, ô, Palique, você desde pequeno tem cores tão bonitas."

O Palique sou eu, Paulo Tigre. Eu sei lá, você tem que compreender que não é fácil. Eu encontro alguém aqui e não digo que estou caminhando sozinho. E tenho que rezar pra que ele não berre alguma coisa que me faça ter que acalmá-lo. Eu não me ofereço pra sair com ele, mas não nego se me pedem. Ainda mais se ele pede. É até estranho quando ele articula alguma frase em seu sentido perfeito, uma ordem ou uma contatação que faça a gente olhar pra ele esperando que depois dela venha mais uma assim e que, do nada, faça ele voltar ao normal: "(...) -tá meio abafado aqui, né? Vou dar uma caminhada, preciso de ar fresco."- daí ele limpa a boca com um guardanapo, põe a colher ao lado do prato de sopa, olha pra mim e me encara por uns 3, 4 segundos e eu aceno que concordo com a cabeça e a gente sai. E depois disso não diz mais nenhuma palavra até a gente voltar:

"-Que vento frio, cortante! Devo estar sangrando, melhor fazer um curativo pro corpo inteiro. E um pra alma."- faz o sinal da cruz e começa a rezar um Pai-nosso.

Talvez o que eu realmente goste nele é a ingenuidade imponderada do que ele fala quando está tudo silencioso, ou tenso principalmente. Às vezes ele abre a boca e é como um isqueiro tipo Zipo no meio da floresta, faz uma onomatopéia pra acordar todo mundo, acende uma tocha e, refletindo a chama em amarelo bem vivo nos olhos deles, sinaliza a presença de todo tipo de predadores. Aí, a chama se esconde dentro da tampinha e você fica esperando o bote de algum deles. Jesus, com essas metáforas, vocês vão achar que o louco sou eu.

"-"Está implícito?" Mas será possível? Agora quer dizer que "Está implícito" significa "não pergunte!?" Essa gente que cochicha o que ninguém quer ouvir, vocês têm que GRITAR!"- sentado na frente da tevê.

Meu tio não é nenhum Antônio Conselheiro. O que ele fala faz certo sentido quase sempre, e não é preciso muito esforço pra que as nuvenzinhas de pensamento que pairam sobre a sua cabeça se conectem com a realidade, mas acho que todo mundo desistiu de tentar encontrar ele nas suas próprias palavras.